sábado, 26 de março de 2011

O silêncio internacional diante das Ditaduras




Por que o insuportável silêncio internacional diante das legítimas rebeliões de populações que exigem liberdade, dignidade econômica e pessoal e democracia? Por que se tem tolerado durante décadas os abusos aos direitos humanos das ditaduras aliadas do Ocidente que têm gerado a atual revolução que percorre o mundo árabe, desde Marrocos até a Arábia Saudita? O que explicava as visitas de Estado a regimes ditatoriais e cleptocracias, os abraços e beijos com os autocratas árabes, as bênçãos a sistemas de governo em desacordo com a legalidade? O artigo é de Mônica G. Prieto.

Mónica G. Prieto - Periodismo Humano

“É a economia, estúpido!”. A famosa frase de James Carville, assessor de Bill Clinton durante a campanha eleitoral que o levou à Casa Branca em 1992, serve para responder as perguntas que muitos fazem. Por que o insuportável silêncio internacional diante das legítimas rebeliões de populações que exigem liberdade, dignidade econômica e pessoal e democracia? Por que se tem tolerado durante décadas os abusos aos direitos humanos das ditaduras aliadas do Ocidente que têm gerado a atual revolução que percorre o mundo árabe, desde Marrocos até a Arábia Saudita? O que explicava as visitas de Estado a regimes ditatoriais e cleptocracias, os abraços e beijos com os autocratas árabes, as bênçãos a sistemas de governo em desacordo com a legalidade? A resposta são bilhões de dólares e uma estabilidade regional que tem beneficiado a Europa e os Estados Unidos e seu principal aliado regional, Israel, em troca da insegurança das populações árabes.

O mérito dos manifestantes árabes que estão colocando em sérios apertos, quando não derrubando, seus regimes é enorme. Não só enfrentam um aparato de segurança repressor - o que os condena, em caso de fracasso, a serem perseguidos e provavelmente massacrados - mas também ao mundo inteiro desde o momento em que os ditadores contra quem se levantam estão ligados com o resto dos países mediante vínculos difíceis de se quebrar: contratos comerciais que não entendem de ideologia nem de moral.

Essa é a razão pela qual os documentos das ONG denunciando torturas, repressão, ausência de liberdades e eleições arranjadas nunca produziram a mais mínima sombra sobre os regimes amigos: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Egito, Emirados Árabes, o atual Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbia, Mauritânia, Omã, Qatar, Tunísia, Iêmen, Sudão, Marrocos… De fato, consultando os informes redigidos pelos escritórios comerciais espanhóis nos citados países ninguém desconfiaria da legitimidade dos regimes e, sobretudo, ninguém duvidaria dos proveitosos negócios que trazem aos Estados Unidos ou à Europa. À custa, isso sim, dos excessos que se cometem contra suas populações. Este é um resumo do que queriam ver nossos governos no Oriente Médio e no norte da África e do que viam seus cidadãos, pelo qual estão se levantando em massa contra seus ditadores.

Arábia Saudita: Com uma economia dependente da exportação de petróleo, a Arábia Saudita depende das exportações exteriores dada sua escassa produtividade em qualquer outro setor. Uma circunstância bem aproveitada por seus sócios internacionais. Entre seus principais provedores figuram Estados Unidos (com negócios avaliados em mais de 13,6 bilhões de dólares em 2009), ou China (10,8 bilhões no mesmo ano) e de forma mais modesta França (3,8 bilhões), Itália (3,5 bilhões) e Grã Bretanha (3,4 bilhões). Espanha figura entre os 10 principais países clientes com negócios no valor de quase 3,4 bilhões de dólares em 2009.

Assim mesmo, em novembro passado negociava a venda de 200 carros de combate que deveria lhe render 3 bilhões de euros, o maior contrato da indústria armamentista espanhola. Para que serviriam esses carros? As últimas atuações conhecidas do Exército da Arábia Saudita, um regime wahabi (a versão mais radical do Islamismo sunita, que implica a segregação absoluta de sexos e relega as mulheres a uma condição de segunda classe) cuja fonte de jurisprudência é a Sharia (código de leis do islamismo), tem tido como cenário Bahrein e Iêmen No primeiro, ativistas do reino denunciaram a entrada de militares sauditas para apoiar a monarquia na repressão das manifestações; no segundo aconteceu há alguns meses, quando o Exército saudita atacou posições dos huthis, rebeldes xiitas armados situados na fronteira entre Iêmen e Arábia Saudita, em um ataque sectário.

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