O militante de idéias Geógrafo Milton Santos criticou a globalização, mas acreditava em transformação social.
"O sonho obriga o homem a pensar"
Milton Santos
Milton Santos (1926-2001) é considerado o maior geógrafo brasileiro pelos colegas de profissão. O
professor de voz calma e olhar tranquilo sublinhou o aspecto humano da geografia e criticou a
globalização perversa. Via na população pobre o ator social capaz de promover uma outra
globalização, que defendeu em livros e conferências pelo mundo.
Milton introduziu importantes discussões na geografia, como a retomada de autores clássicos, e foi
um dos expoentes do movimento de renovação crítica da disciplina. Preocupado com a questão
metodológica, construiu conceitos, aprofundou o debate epistemológico e buscou na
transdisciplinaridade uma visão totalizadora da sociedade.
Esquerdista convicto, não se filiou a partidos: "não sou militante de coisa alguma, apenas de
idéias", diz em uma de suas frases mais divulgadas. O estilo independente revela a influência
sartreana desse brasileiro que se celebrizou na França, onde obteve o doutorado e lecionou
durante a ditadura.
...
Milton foi consultor da Organização das Nações Unidas, da Unesco, da Organização Internacional
do Trabalho e da Organização dos Estados Americanos. Também foi consultor em várias áreas
junto aos governos da Argélia, Guiné-Bissau e Venezuela. Possuía 13 títulos de doutor honoris
causa, recebidos no Brasil, França, Argentina e Itália, entre outros. Foi membro do comitê de
redação de revistas especializadas em geografia no Brasil e exterior. Fez pesquisas e conferências
em mais de 20 países, dentre eles Japão, México, Índia, Tunísia, Benin, Gana, Espanha e Cuba.
Recebeu em 1997 o prêmio Jabuti pelo melhor livro em ciências humanas: A natureza do espaço:
técnica e tempo, razão e emoção. Em 1999 recebeu o Prêmio Chico Mendes por sua resistência.
Foi condecorado Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico em 1995. Hoje, o geógrafo
tantas vezes laureado empresta seu nome ao Prêmio Milton Santos de Saúde e Ambiente, criado
pela Fundação Oswaldo Cruz.
Milton Santos nunca participou de movimentos negros - acreditava que deveriam conquistar
reconhecimento em atitudes como, por exemplo, ingressar na universidade. "Minha vida de todos
os dias é a de negro", declarou. "Mantenho com a sociedade uma relação de negro. No Brasil, ela
não é das mais confortáveis."
Raquel Aguiar
Ciência Hoje/RJ
dezembro/2001
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